fios

Hunchback of Notre-Dame, puppet show

Tempo passado, a nossa passagem pelo mundo começa a afeiçoar-se. A pessoas, a coisas, a espaços: desde que nascemos, estes moldam-nos e nós a eles. E é bom, na medida em que nos torna humanos e nos sustenta o sentimento de pertença, de laço, de ligação fraterna à vida.

Mas no reverso da medalha, há alturas em que o afecto se torna dependência, os laços transformam-se em fios.

Fios que nos atam a recantos passados. Fios que prendem o interior e amarram feridas antigas a arcas de memória por arrumar. Fios que cobardemente entregam as nossas decisões a medos, movimentos a ideias pré-concebidas, mudanças a inércia.

É muito boa a sensação de cortar os fios que me atrasam, que me impedem de ser verdadeira. Cortar lentamente e livremente as prisões do espírito e da mente. A princípio, deixam-me desequilibrada: porque achava eu que estas prisões eram aquilo que me sustentava.

Depois, com paciência, reaprendo a andar, sem os fios de um teatro – com liberdade para ser eu.